"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas...Continuarei a escrever" - Clarisse Lispector

quinta-feira, 4 de março de 2010

O elevador





O elevador


Muitas garotas têm medo de insetos. Outras, horror à altura. Já eu, não me incomodo com os insetos, e acho lugares altos lindos, mas em compensação tenho pavor de elevadores.

Elevadores? Vocês me perguntam. Sim, parece uma coisa boba, porém vou contar-lhes o motivo dessa fobia que me persegue.

Durante a minha quinta serie eu tinha alguns problemas respiratórios, e quando estava num ambiente abafado ou fechado, às vezes tinha falta de ar. Um dia quando saia da minha aula de inglês com mais três amigas, uma delas começou a passar ma,l com tontura e enjôo por causa de cólica. Decidimos pegar o elevador em vez de descer os quatro andares do prédio com a menina zonza.

Na semana anterior o elevador havia quebrado, e fazia poucos dias que estava consertado. Um pouco receosa, me ofereci para chamar um professor para ajudá-la, mas a resposta que obtive foi a seguinte:

- Deixa de ser boba, acabaram de consertar, está melhor do que nunca.

Entramos as quatro no elevador minúsculo, e ele desceu normalmente. No momento em que chegamos ao primeiro andar, sentimos um solavanco, a máquina mortal afundou mais um pouco, e não abriu.

Nervosas, apertamos o botão de alarme, mas ele não funcionava. Como sabíamos que o elevador dava de frente com a cantina da escola, começamos a bater desesperadas na porta, gritando por socorro.

Algumas vozes vieram do lado de fora. Calma, calma, vamos tirá-las daí. Se acalmem. Até parece, quatro garotas de 11 anos presas num elevador com um calor de 36 graus lá dentro, e ainda por cima com uma delas morrendo de cólica. Tudo calmo, com certeza.

Passou-se dez minutos sem qualquer sinal de que sairíamos de lá tão cedo. O clima abafado junto com os soluços de nervoso somaram-se para desencadear a ausência de ar nos meus pulmões. Primeiro, dei algumas fungadas. Depois comecei a puxar o ar com força, mas parecia que ele se recusava a chegar aonde deveria. Vendo-me naquele estado, a outras garotas ficaram ainda mais apavoradas.

Uma delas se empenhou em esmurrar a porta e proferir todo tipo de xingamentos. A outra, que estava com dor, se encolheu em um dos cantos e começou a chorar. E para a surpresa e irritação de todas, a terceira sentou-se no chão, e não parou de dar risada. Ria como se o bute tivesse baixado nela, gargalhava como se tivesse ouvido uma piada de mau gosto muito divertida.

Gritamos com ela, falamos para parar, mas mesmo assim ela ria e ria, parecia uma gralha que fora atingida por uma bomba de gás do riso. Depois de quase uma hora, conseguiram abrir a porta. Saímos tremulas, suadas, no meu caso sufocada, e muito, mas muito bravas. E minha amiga ainda ria, continuou rindo quando fomos para a sala da direção tomar um chá calmante, e continuou rindo quando saímos de lá, um pouco mais baixo e controlado, mas ainda aquele riso irritante e sádico.

Toda vez que olho para um elevador, lembro da cena delas rindo, chorando e xingando, tudo junto, misturado com a falta de ar e o calor, e sinto um calafrio percorrer a espinha. Elevador? Não, obrigado, prefiro as escadas, não fico presa nelas e ainda me exercito.

Um comentário:

  1. Neee... Aaru-chaan '-'
    Que horror ficar preso no elevador...
    Passar por isso deve ser uma experiência e tanto!

    Pelo menos foi perto do 1º andar.
    Não gosto nem de pensar, mas e se fosse no andar mais ato ?
    Bem, um teste maior ainda de resistência :/

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