A menina que falava com árvores
A menina de olhos azuis aproximou-se de sua mãe, que lia interessada uma revista.
Disse-lhe com voz manhosa:
― Mãe, eu me sinto só.
A mulher não desviou os olhos do que lia, e resmungou:
― Vá brincar com a vizinha.
― Mas ela não é minha amiga. ― A pequena cruzou os braços.
― Não?
― Não. Ela pega meus brinquedos, puxa meu cabelo e zomba de minhas roupas.
― Então brinque com sua boneca nova. ― Disse a mãe encerrando o assunto e fazendo um gesto para a garota sair da sala.
Cabisbaixa, ela foi então falar com seu pai que estava no escritório. Disse-lhe com a voz tristonha:
― Pai, eu me sinto só.
O homem digitava em seu computador ― ele estava sempre trabalhando, era o que a menina constatava.
― Mas você não tem amiguinhos lá na escola? ― Ele tentava deixar a voz doce, mas claramente não estava prestando atenção no que a filha dizia.
― Não. Eles não me deixam brincar...
― Filhinha ― Ele parou de digitar e olhou para ela. ― Deixa o papai trabalhar, depois eu coloco um jogo novo pra você no computador.
Ela desistiu de conversar e foi andando amuada até seu quarto.
No dia seguinte, na escola, procurou sua professora e falou chateada:
― Tia, eu me sinto só.
― Seus amigos estão brincando, vá lá ― Ela fez um gesto para o parquinho, no qual as crianças corriam e pulavam.
― Eles não são meus amigos...
― Claro que são. Vamos, tente se enturmar.
“Gente grande tem uma idéia muito errada sobre amizade”, pensou ela, enquanto se afastava do parquinho e sentava embaixo de uma árvore.
― Eu me sinto só... ― Disse para si mesma e suspirou.
― Eu também. ― Respondeu a árvore.
A menina dos olhos azuis deu um salto, surpresa, e fitou os galhos acima de sua cabeça.
― Você fala?
― Claro que falo, todas as arvores falam. ― Ela respondeu delicadamente, mas como se aquilo fosse obvio. ― Mas os adultos se recusam a nos ouvir.
Ela olhou fascinada para a árvore.
― Qual é seu nome?
― Jacarandá, prazer.
― Por que você se sente só, Jacarandá?
― Não há outras árvores à volta. Não tenho ninguém para conversar, e há muito tempo nenhum passarinho vem aqui fazer um ninho e me alegrar com seu canto.
A garota ficou pensativa, e a árvore completou meio melancólica:
― Nós nos sentimos sós na cidade...
Ela concordou com a cabeça, e perguntou:
― O que é um amigo?
― É alguém que preenche um pouco do vazio das pessoas. ― Disse-lhe a árvore com uma voz meiga, mas tristonha. A menina sorriu.
― Posso lhe fazer companhia?
O vendo bateu nas folhas do Jacarandá, que balançaram, e pareceu que ele estava rindo.
― Mas é claro, pequenina.
A partir daquele dia, a menina de olhos azuis passou a falar com árvores.
Disse-lhe com voz manhosa:
― Mãe, eu me sinto só.
A mulher não desviou os olhos do que lia, e resmungou:
― Vá brincar com a vizinha.
― Mas ela não é minha amiga. ― A pequena cruzou os braços.
― Não?
― Não. Ela pega meus brinquedos, puxa meu cabelo e zomba de minhas roupas.
― Então brinque com sua boneca nova. ― Disse a mãe encerrando o assunto e fazendo um gesto para a garota sair da sala.
Cabisbaixa, ela foi então falar com seu pai que estava no escritório. Disse-lhe com a voz tristonha:
― Pai, eu me sinto só.
O homem digitava em seu computador ― ele estava sempre trabalhando, era o que a menina constatava.
― Mas você não tem amiguinhos lá na escola? ― Ele tentava deixar a voz doce, mas claramente não estava prestando atenção no que a filha dizia.
― Não. Eles não me deixam brincar...
― Filhinha ― Ele parou de digitar e olhou para ela. ― Deixa o papai trabalhar, depois eu coloco um jogo novo pra você no computador.
Ela desistiu de conversar e foi andando amuada até seu quarto.
No dia seguinte, na escola, procurou sua professora e falou chateada:
― Tia, eu me sinto só.
― Seus amigos estão brincando, vá lá ― Ela fez um gesto para o parquinho, no qual as crianças corriam e pulavam.
― Eles não são meus amigos...
― Claro que são. Vamos, tente se enturmar.
“Gente grande tem uma idéia muito errada sobre amizade”, pensou ela, enquanto se afastava do parquinho e sentava embaixo de uma árvore.
― Eu me sinto só... ― Disse para si mesma e suspirou.
― Eu também. ― Respondeu a árvore.
A menina dos olhos azuis deu um salto, surpresa, e fitou os galhos acima de sua cabeça.
― Você fala?
― Claro que falo, todas as arvores falam. ― Ela respondeu delicadamente, mas como se aquilo fosse obvio. ― Mas os adultos se recusam a nos ouvir.
Ela olhou fascinada para a árvore.
― Qual é seu nome?
― Jacarandá, prazer.
― Por que você se sente só, Jacarandá?
― Não há outras árvores à volta. Não tenho ninguém para conversar, e há muito tempo nenhum passarinho vem aqui fazer um ninho e me alegrar com seu canto.
A garota ficou pensativa, e a árvore completou meio melancólica:
― Nós nos sentimos sós na cidade...
Ela concordou com a cabeça, e perguntou:
― O que é um amigo?
― É alguém que preenche um pouco do vazio das pessoas. ― Disse-lhe a árvore com uma voz meiga, mas tristonha. A menina sorriu.
― Posso lhe fazer companhia?
O vendo bateu nas folhas do Jacarandá, que balançaram, e pareceu que ele estava rindo.
― Mas é claro, pequenina.
A partir daquele dia, a menina de olhos azuis passou a falar com árvores.