"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas...Continuarei a escrever" - Clarisse Lispector

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Multidões



Multidões


Caminham as multidões frias e acéfalas, escondendo seus rostos em máscaras.

Caminham as multidões estúpidas alienadas, sem ter conhecimento de si mesmas.

Caminham as multidões, sem dons, opiniões, razões ou sentido.

Caminham as multidões consumistas fúteis, de olhos fechados para todo o exterior.

Caminham as multidões egoístas, ignorantes e aparentemente satisfeitas.

Caminham.

Caminham.

E não param, nunca, para observar o caminho que trilharam, ou o caminho que agora seguem.

Caminham as multidões sem ter motivo de existir.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Se aproximando...




Se aproximando...


Um passo. Dois passos. Pé ante pé, lentamente, ela caminhou pelo ambiente escuro. Com um formigamento arrepiante em sua nuca, a jovem andava receosa com uma das mãos por entre os cabelos, tentando conter em vão a sensação desagradável de que algo ruim se aproximava.

Na verdade, não era a presença ruim que se aproximava. A jovem que caminhava em sua direção. Devagar, mas caminhava, mesmo receosa, mas caminhando. De alguma forma, a presença a atraia, seduzia, mesmo que a garota soubesse que nada de bom viria dela.

No fundo, sentia-se frágil. E aquele outro ser que a habitava era a defesa perfeita, o escudo inquebrável, a proteção necessária. Era atraída, inconscientemente, por aquela força que ela mesma nunca tivera.

Não parava de caminhar. A cada passo, maior o medo. A cada vez que olhava pra trás, maior a dúvida. A cada passo, ouvia um riso sádico rodeando-a, aproximando-se, tornando-se mais intenso. Ela a chamava... Seu outro “eu” a chamava, sussurrando e sugerindo idéias macabras. Assustando-a. Tentando-a.

Mais um passo. Agora estava bem perto... Tremia dos pés a cabeça, e seus pensamentos pareciam se misturar com os da outra, tanto que a jovem já começava a questionar-se de quem realmente era.

Mas seu maior medo, e a grande dúvida que a assolava, só teria resposta quando realmente a alcançasse. Será que a pequena e frágil jovem desapareceria?

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Direito



Direito



Uma vez, um amigo importante me disse algo que nunca esquecerei. “Seu sorriso tem o poder de trazer alegria a todos a sua volta”, ele afirmou. Eu acreditei, e ainda acredito.

Sorrisos... Sorrir o tempo todo foi uma filosofia de vida minha, por muito tempo. Alegre ou triste, ferida ou não, sorria sempre. Nunca foi muito difícil, às vezes o aperto no peito parecia clamar ultrajado, mas eu sempre aguentei. E assim, com essa energia positiva, atrai coisas boas para mim.

Mas... Nem tudo é tão simples. E guardar sentimentos pode ter consequências catastróficas.

Eu comecei a me ver perdida. Porém, outra pessoa importante para mim me deu um sábio conselho – “Você pode ficar triste também. Ninguém consegue ser apenas feliz o tempo todo... Quando precisar, fique triste, chore, não mostre seu sorriso. E quando isso acontecer, eu estarei do seu lado para te ajudar, prometo”.

Sábio conselho, de uma pessoa que infelizmente não tem confiança nenhuma em si mesma. Mas esse alguém me deixou... Apesar da promessa não ter sido cumprida, essas palavras eu deixo bem gravadas.

Eu o escutei, e agora estou dando uma chance para minha tristeza. Estou cansada... Cansada de o tempo todo fingir. O sorriso não mais surge, nem o falso, muito menos o verdadeiro.

O irônico é que eu sorri para ajudar os outros a minha volta, sempre que precisaram.
Perdoei várias vezes, e fui compreensiva, pois em momentos de raiva não temos consciência do que dizemos. Mas agora, quando eu resolvo mostrar minha fraqueza, se eu tinha sequer uma leve esperança de que fariam o mesmo por mim, esta já desapareceu.

Quem quer ficar próximo de alguém com a face tão fechada? Agradável era a minha companhia quando eu sorria. E só... Lembro-me de sábias palavras de outro alguém, “Você não pode esperar que os outros se esforcem como você”. É, já entendi...

Não sorrir é... Frio. Congelante. Assustador. E no entanto, não tenho mais vontade nenhuma de forçá-lo. Todos têm o direito de ficar triste...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O casal que não queria parar de dançar





O casal que não queria parar de dançar


Moviam-se devagar, no compasso da valsa. A música era lenta e ritmada, e o casal girava nos pés seguindo o fluído som do violino. O salão podia estar cheio, mas nada disso eles viam. Apenas enxergavam o rosto um do outro.

Ah, como esperaram por aquele dia! O dia em que poderiam dançar durante toda a noite, apenas os dois, corpos colados e respirações sincronizadas. A melodia pouco os importava; o objetivo era ficar juntos, sentirem ao outro e declararem-se silenciosamente, apenas com o brilho nos olhos e as carícias discretas.

E podiam ficar lá para sempre, sem ver problema algum. Se a música não acabasse, eles também não parariam. Nem se ela terminasse, não tinham motivos para parar.

Pois seus corações agora batiam simultaneamente. Seus suspiros haviam se tornado um só. Seus perfumes se misturavam, e apenas eles conseguiam apreciar o cheiro adocicado, tal era a proximidade que estavam. E nunca em todas as suas vidas, tiveram um momento tão feliz como aquele.

Não precisavam falar. Seus corpos unidos se comunicavam numa língua que só os dois entendiam. E sem sequer uma manifestação de palavras, ambos compreendiam a mensagem passada. Eles gritavam “Eu te amo”.

A melodia acelerou, e os dois junto. Em meio a giros e piruetas, entravam em um novo mundo. Um mundo somente deles, não havia mais ninguém por lá; era um lugar preenchido por seus sentimentos carinhosos e românticos, ocupado por sua amizade, compreensão e afeição.

E assim perceberam como o ato de amar é simples. Basta estar com a pessoa desejada, tocá-la, respirá-la. No entanto, ao provar disso, você não tolera mais perdê-lo. Não suporta desenlaçar as mãos, afastar os lábios, dar um último sorriso e dizer adeus.

Precisa mais e mais estar com o outro, fundir-se com ele. Tornar-se um só para jamais se separar novamente. O jovem casal provava dessa nova compreensão, sentia essa energia agora percorrendo suas peles, enquanto seus pés mais e mais giravam no piso lustroso do salão.

Nada mais viam. Nada, absolutamente nada. Nem mesmo ouviam a música. Nem mesmo sentiam quando alguma outra dupla desengonçada trombava com eles. Só enxergavam a pessoa amada.

E nem mesmo perceberam quando a canção parou, quando gritos horrorizados preencheram o salão, e pessoas desesperadas correram para fora, fugindo das enormes línguas de fogo geradas por uma pequena vela que tudo agora incendiava.

Não sentiram o calor subir-lhes pelas roupas e cercar-lhes como um predador traiçoeiro. Não viram o incêndio que tomava todo o lugar, incinerava os belos panos que cobriam as mesas, colocava em combustão os antes saborosos aperitivos, e engolia tudo o que estava à sua volta.

Porque o amor nos propicia a sensação mais doce e aveludada existente. Porém, ele também nós cega, vicia, fere mais do que qualquer arma, nos consome como um veneno caprichoso - lenta e dolorosamente.

O casal agora se tornara um só, devorado pelas chamas impiedosas. E suas cinzas, levadas pelo vento, dançarão pelo céu infinito sem nunca parar, exatamente como eles queriam.

Por toda a eternidade.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Alguém




Alguém


Sou alegre, sorridente e pequenininha. Para os que não me conhecem, provavelmente uma boba. Para os que conhecem, uma boba também. Mas tudo não termina nas aparências.

Sou alguém que já viveu muito, e mesmo assim crê que viveu muito pouco. Alguém que já ficou triste. Alguém que já ficou melancólica. Alguém que já se lamentou da vida, e alguém que já ficou feliz por existir.

Já chorei até não mais aguentar; já chorei de dor, chorei de tristeza, chorei por amor, e pela pessoa amada. Já chorei de alegria, já chorei de emoção, de medo, de angústia e de satisfação. Já chorei em silêncio.

Já tive uma crise de risos, e não consegui parar. Já ri quando não deveria. Também ri da desgraça alheia, algumas vezes. Ri de piadas bobas, de ironias, de sátiras, de críticas bem fundamentadas, já ri simplesmente por rir. Ainda faço isso frequentemente.

Já sofri, já mudei, já cresci, já fui criança, já fui egoísta, já pensei no outro antes de mim. Já fiquei brava, constrangida, chateada. Já me exibi, já contei vantagens, já perdi e não me importei com isso.

Nunca consegui guardar rancor.

E me esforcei demais, e me decepcionei. Fingi estar bem, quando não estava. Tentei ajudar alguém importante também, esquecendo completamente de meus problemas.

Conheci as felicidades da vida, conheci os horrores também. Descobri que a felicidade está escondida em pequenos detalhes, pequenas ações, num simples “eu te amo”. Deixo essa dica para quem tentar procurá-la.

Descobri que decepções são necessárias, e portanto é impossível evitá-las. Descobri também que tive forças para superá-las. Descobri que sozinha não vou conseguir nada.

Descobri os prazeres da vida nas palavras, nas artes, na música e no amor. E desses prazeres tiro minha inspiração. Descobri que a melancolia também nos inspira, tanto quanto a alegria, ou talvez até mais.

Aprendi recentemente que quanto mais complicados pareçam nossos sentimentos, mais simples eles são.

Quem sou eu? Não sei, ainda estou me descobrindo. E sabe, gosto do que descubro. Algumas coisas não, mas a maioria sim. Sou alguém no mundo, simplesmente alguém.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Vista de Titã




Vista de Titã


Silêncio. Eterno, infinito e completo.

A visão de saturno, daquele rochedo em uma de suas luas, no qual eu estava sentado, era um prazer suave.

O planeta flutuava enorme lá no céu, belíssima bola de gás nunca explorada por homens. E os anéis o circundavam, como uma gigante aliança de compromisso, sinal de proteção, amor e fidelidade.

O Poderoso Sol estava distante, mostrando apenas um pouquinho da extensão que realmente é. Além dele, viam-se estrelas e mais estrelas no manto negro que cercava os planetas - o tão conhecido universo.

Saturno brilhava orgulhoso, aproveitando a luz que recebia do astro incandescente. Simplesmente lindo.

Enquanto observava a paisagem, ajeitei o cachecol azul em meu pescoço. E ao voltar os olhos para o planeta, tive a sensação de ver algo se movendo. Vultos coloridos, seriam pássaros?

Belíssimos pássaros! Ah, mas não há pássaros em Saturno... O que seriam aquelas criaturas? Observando melhor, percebi. Eram apenas os gases do planeta, que se movimentavam graciosamente. No entanto, realmente pareciam aves... Decidi batizá-los de pássaros de Saturno.

Mas além dos elegantes pássaros, nenhuma outra criatura me rodeava. A vista era magnífica, de fato, porém também solitária...

Lembrei-me de um amado livro, do pequenino protagonista ingênuo. E sem um motivo exato, repeti suas palavras.

“Tem alguém ai?”

Obviamente, assim como no livro, não esperava obter uma resposta. Levantei-me num sobressalto quando uma voz doce veio de trás de mim.

“Tem sim”

Virando-me exaltado, encontrei com meus olhos duas figuras. Duas figuras há tanto ansiadas por serem vistas pessoalmente pelos meus olhos claros.

A menina, baixa e de semblante pacifico, tinha em seu pescoço um cachecol verde suave. E o garoto, bem mais alto que ela, expressão de completa alegria, trazia um cachecol vermelho intenso.

Ambos sorriam. Ambos olhavam para mim. A garota se aproximou primeiro, segurou minha mão. O outro veio logo atrás, passou o braço pelos meus ombros. Ela disse com a voz meiga.

“Estamos aqui.”

E o menino confirmou com a cabeça e em seguida disse:

“Você não está sozinho.”

Meus dois grandes amigos.

Deixei um sorriso explodir em meu rosto, e uma única lágrima escapar pelos olhos.

Nos encontramos em Titã, uma lua de Saturno.

domingo, 8 de maio de 2011

Invejável



Invejável


Um vulto se aproximou do pico nebuloso. A criatura abriu as asas orgulhosa, chacoalhou o corpo para afastar a neve. Tudo reinava no mais completo silêncio, desde a montanha gelada até a paisagem kilômetros e kilômetros abaixo dela.

Então um grito cortou o ar, rasgou a corrente gelada, e quebrou o calar do horizonte. O animal mirou todo o território, impossível saber o que ele pensava. Ou se sequer pensava. Podia ser apenas um instinto, uma tendência de sua espécie. Mas naquela hora, em meio do branco emoldurado no azul, parecia o ser mais inteligente e magnífico existente.

Logo todos os músculos trabalharam, as articulações se dobraram, e as pernas fortes deram o impulso. Lançou-se ao ar, gabando-se de todo o resto. O céu era seu, somente seu, e a paisagem logo abaixo também. Moveu as asas para impelir-se mais para o alto, e depois planou aproveitando uma corrente de ar.

Asas abertas, penas balançando com o vento, triunfante. A águia estava onde deveria estar, em seu lugar. Não eram necessárias reflexões, pressões mundanas, ou regras sem sentido. O animal voava por simplesmente voar, por essa ser sua natureza, e por assim sentir-se bem. Criatura livre, espontânea e radiante.

Os homens que a invejassem! Chegara mais alto do que qualquer outro. Era um Deus! Acima, apenas o azul do céu, sem nuvens. Abaixo, uma floresta de pinheiros decorada com a brancura da neve. E a frente... Bem, o que ela quisesse. Sem rumo, sem obrigações, poderia viajar para onde bem entendesse.

Cada movimento a movia com mais velocidade, as penas pontiagudas do final das asas jaziam abertas, tornando-a ainda mais sublime e ufana de sua capacidade de voar. Não sabia o que a aguardava, muito menos seu rumo ou destino. Apenas voava. Para frente, sempre, crédula de sua força. Deslumbrante. Poderosa. Invejável.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sabe o que é amar?




Sabe o que é amar?

Sabe o que é amar?
É perceber cada detalhe
Observar cada movimento
Deliciar-se com cada palavra
Que é proferida pelo seu sorriso

E amar incondicionalmente?
É pensar, em cada instante
E sonhar em cada noite
Com seu toque, seu calor
E seus suspiros de deleito

Se amar é sofrer
Aceito esse castigo por toda minha vida
Porque amar é só o que sei
E se nem isso eu não puder fazer
Muito maior será o sofrimento.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Amante do caos




Amante do caos


Gosto de provocar as pessoas. Se todos vão para um lado, eu vou para o outro – dar o contra já se tornou minha especialidade. Adoro o que é desafiador, o esquisito, fora dos padrões.

Gosto de fazer comentários polêmicos, politicamente incorretos, que incomodam as massas. Provoco, cutuco, às vezes nem estou expressando minha opinião verdadeira, só quero encher o saco mesmo. Delicio-me com a expressão que alguém faz quando seus ideais são criticados.

Faço perguntas absurdas, nem nexo e de vez em quando idiotas. Faço-me de burra, para irritar, e também faço-me de intelectual, pelo mesmo fim. Se encontro uma figura arrogante então, dedico-me completamente a estragar seus argumentos e deixá-la aborrecida.

Por causa de certos acontecimentos e influências, desenvolvi um sadismo inquieto. Ele não faz parte da minha essência, mas se manifesta frequentemente. É claro que quando necessário, paro com as brincadeiras e mostro minha real opinião (e também a defendo até o fim). Mas se tiver liberdade para atormentar todos a minha volta, não perco a chance.

Sou um monstro? Não, nem tanto. Uma pentelha, talvez, usando um eufemismo. Podem me chamar de amante do caos.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Fita azul



Fita azul



Certo dia, com a sensação de ter despertado de um sonho no qual passara toda a minha vida, simplesmente desisti de me concentrar em qualquer tarefa útil ou necessária. Comecei a brincar com uma fita do senhor do bom fim, que estava amarrada em meu estojo.

Absorta em pensamentos, enrolava a fitinha azul no dedo, desenrolava, fazia um nó, desfazia, até que puxei um fio solto. E ao puxá-lo, outro se soltou, e ao também puxar este, o mesmo ocorreu com o que vinha em seguida.

Encontrando algo interessante em meu momento de reflexão, coloquei-me a desfiar a fita. Fio por fio, devagar, desajeitada. Descobri que na verdade ela é feita por feixes de linha que se cruzam, o que pode parecer algo banal para se perceber. No entanto, a fita azul escura me fez pensar.

O que existe por trás do que existe? Ah, devo parecer doida ao fazer tal pergunta. Mas na verdade, não é tão absurdo assim. A fita, que existe, é feita por fios, que também existem. E, no entanto, quando se vê uma fita, não se pensa do que ela é feita; apenas constata-se que ela é o que é, e ponto final. Por quê?

Deve ser consequência de minha curiosidade excessiva, ou da já antes comentada sensação de ter despertado de um sonho, que me faz querer ver mais fundo. Bem mais fundo.

Posso ir mais longe ainda: tocando a fita, pude perceber que esta possuía uma textura relativamente áspera; mas tocando a parte agora desfiada, senti macieza, uma textura mais agradável. Como explicar que exatamente o mesmo material pode passar sensações diferentes, dependendo da forma como está sendo utilizado ou disposto?

Perguntas desse tipo enchem minha cabeça diariamente. E de fato parecem bobas, mas posso transportar a reflexão da fita para minha realidade. Repito, o que existe por trás do que existe? O que está escondido atrás dos olhos? Acredito que muitas vezes minha visão me engana. Meu coração me engana. Eu mesma me engano. Mas não de propósito.

Gostaria de ver os fios escondidos, gostaria de despertar de sonhos mais vezes, e de me chocar com a realidade, e me distrair do que é considerado “útil”, e parar para refletir sobre algo que parece banal novamente. Confesso que cada vez que isto acontece, a realidade me assusta. E ao mesmo tempo, me pergunto se essa é realmente a realidade, ou mais um sonho dentro do sonho, do qual despertarei um dia.

Posso ainda chegar a mais uma conclusão com essa reflexão de aparente teor altista – porque como sempre, fazer e pensar algo fora do comum é considerado problema de sanidade – que é: a cada fita que desfio, torno-me mais habilidosa em tal ato.

Ao desfiar a primeira ponta, tive certa dificuldade, puxei fios errados, e o resultado foi meio torto e amarrotado. Mas após entender o mecanismo, fui para a outra ponta, e desta vez com mais habilidade consegui um resultado mais belo, em menos tempo. Interessante a prática que conseguimos em tudo que fazemos. Tentamos uma vez. Na segunda vez que tentamos, já não somos mais os mesmo da primeira. Já evoluímos, mesmo que seja pouquíssimo, mesmo que seja uma evolução que não tenha propósito. Cada vez que respiramos, aprendemos algo novo, crescemos.

Claro, essas são apenas teorias de uma mente romântica, sonhadora e curiosa. Para mim fazem sentido, para os outros não tenho idéia. Talvez façam, talvez não. Gostaria que fizessem. Enquanto os outros fazem suas próprias reflexões, farei as minhas. Sairei em busca de mais fitas para desfazer.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Saudades...




Saudades...



Preciso voltar a escrever. Preciso voltar a brincar com as palavras, dançar uma valsa cheia de rodopios junto a elas.

Meu desabafo, meu consolo, minha expressão, parecem ter se perdido com o tempo. Não gozo mais daquela satisfação de um texto bem escrito, de um sentimento exposto em poesia, ou uma simples gargalhada tirada de outro com minhas palavras no papel.

A falta que isso me faz é imensurável. E enquanto meu caderno permanece em branco, o aperto no peito aumenta. A necessidade de escrever cresce. E a inspiração continua sumida...

Essa rotina, essa sociedade, essa pressão nos tira a alma de poeta. Esqueço aos poucos os prazeres da vida, os prazeres de uma humilde escritora. Estou cansada, febril, doente de viver por um objetivo que não me faz sentido. E desolada com o modo como tudo a minha volta funciona.

Preciso voltar a brincar com as palavras. Pelo simples prazer de uma crônica boba, ou pelo alivio de uma reflexão há muito tempo guardada no peito. Pela alegria de agradar aos outros, de entretê-los, de passar mensagens ou dar conselhos. Pela satisfação de mostrar o que eu penso, sinto e acredito – meus ideais. Pela diversão de imaginar historias absurdas, mágicas e principalmente, que nos fazem sonhar.

Ah, que saudades das minhas amigas palavras...